Qual a melhor forma de orientar o manipulador de alimentos?

 

Ninguém gosta de estar errado. E mais: ninguém gosta de ser alertado sobre estar errado. Dentro de uma cozinha, porém, é responsabilidade do profissional da nutrição orientar o manipulador de alimentos para que este corrija irregularidades e atitudes que coloquem em risco à segurança dos alimentos. Como, então, realizar esta troca de forma harmoniosa e empática? É sobre isto que falaremos neste post.

É importante ressaltar que, apesar da hierarquia dentro da cozinha, todos são uma equipe. As coisas funcionam porque cada um respeita a sua função e se compromete com o seu trabalho. A cozinha é como uma dança: todos precisam saber a coreografia para que os movimentos fluam de forma delicada e no tempo da música ou, melhor dizendo, no tempo das boas práticas de fabricação.

Se você já teve problema com algum colaborador, está iniciando sua jornada na nutrição ou, então, gostaria de integrar melhor sua equipe, este post é para você!

 

Quando orientar o manipulador de alimentos?

A nutrição não vive isolada em uma bolha, na salinha longe da cozinha. Não é apenas função da técnica coletar amostras e medir temperatura e a nutricionista não fica exposta em uma vitrine para vigilância sanitária. Elas estão ali para garantir que a refeições sejam saborosas e seguras, assim como o cozinheiro e os responsáveis pela limpeza.

O profissional da nutrição tem que vivenciar a cozinha, afinal, orientação sem compreensão não funciona. Se você não sabe quais são os principais problemas das pessoas que trabalham na cozinha, como espera que eles escutem o que você tem a dizer? Esteja, primeiro, disposto a ouvir e, principalmente, pronto para entender.

Treinamento para manipuladores de Alimentos

Essa orientação, então, não se resume aos treinamentos ou advertências. Ela é parte da rotina e está associada às outras atividades do dia a dia. Esse diálogo deve ocorrer sempre que for pertinente. Um comentário aqui, um toque ali, uma conversa acolá… E assim, em passos de formiguinhas e pequenas orientações, se constrói uma consciência coletiva.

Não ache que em um treinamento de uma hora resolve todos os problemas. É preciso paciência e, principalmente, persistência ao lidar com outras pessoas. O diálogo, nesse sentido, desempenha um papel muito importante.

 

Qual é a importância do diálogo?

Orientação não é monólogo. Ela complementa o diálogo, que, de acordo com o dicionário, compreende “troca de ideias”, “fala em que há a interação entre dois” e ainda “troca de ideias ou opiniões com o propósito de chegar a um entendimento”. Não é uma frase solta, dita ao vento, e um aceno de cabeças indiferentes. É saber o que o outro precisa ouvir para assimilar aquela informação, além de se mostrar à disposição para dúvidas.

A falta de diálogo é o que origina, na maioria das vezes, os problemas nas relações de trabalho. Falta iniciativa em perguntar e boa vontade em escutar. É a partir desta troca que se resolve problemas e se cria vínculos de confiança. E quando você confia em alguém é muito mais fácil escutar o que ela tem a lhe dizer.

Nada de fofoca ou disse-me-disse. O diálogo é a construção de entendimentos, a busca pela verdade e os egos sendo deixados de lado. A qualidade deste diálogo também fala muito sobre o resultado desta orientação.

 

O que não fazer na hora de orientar o manipulador de alimentos?

Então, o que não pode fazer parte deste diálogo? Estas ideias podem parecer óbvias, mas no calor no momento é comum que as pessoas esqueçam que o outro também tem sentimentos e uma vida além do trabalho. É difícil não levar o assunto para o pessoal ou se sentir ofendido com as palavras.

Por esse motivo, se atenha aos seguintes detalhes:

  • Pense no tom de voz. Em hipótese alguma, grite com seus colaboradores. Mantenha um tom de voz calmo e firme ao mesmo tempo;
  • Não aponte o dedo. Este é um gesto grosseiro que pode ser mal interpretado;
  • Olhe nos olhos e evite revirá-los ou olhar para outros sentidos, como se não quisesse prestar atenção ao que a outra pessoa diz;
  • Espere o outro terminar de falar antes de começar sua frase. Isso mostra educação e respeito à fala do outro;
  • Antes de acusar, pergunte. Toda história tem mais de dois lados;
  • Evite palavras negativas, como “não pode”, “está errado”, “não repita isso”. Tente empregar o mesmo sentido de forma mais gentil, como “isso pode prejudicar os clientes”, “o que você acha de fazer diferente?”, “isso pode ser feito de outra maneira, olha só…”
  • Nunca xingue o outro durante a conversa. Burro, incapaz, fardo? Jamais! Eleve as características boas da pessoa, mostrando o quanto ela é capaz de aprender coisas novas e corrigir suas próprias falhas. Afinal, você contratou aquela pessoa por algum motivo, certo? 

Como ter uma orientação efetiva?

Mas o diálogo não basta, eu chamo, chamo, chamo para conversar, falo, oriento e nada muda. Será que você não esqueceu do dia a dia? Do que acontece quando o diálogo acaba? Alcançar resultados sem um acompanhamento antes e depois é praticamente impossível. Tudo se resolve na base da consistência.

Pense: quando alguém vem te pedir algo ou contar sobre um problema da cozinha, o que você faz? É preciso se mostrar uma pessoa disposta a resolver problemas para que todos confiem em sua palavra. Se não, você se torna apenas a “megera querendo dar ordens”.

colaboradores em nutrição

Além disso, é importante explicar os porquês. Toda orientação tem um fundamento e é bacana colocar o outro para pensar sobre. Não pode deixar um proteína sem refrigeração, mas por quê? Não pode deixar a bucha imersa em água, mas por quê? Não pode usar barba e esmalte, mas por quê? Precisa ter identificação nos produtos abertos, mas por quê? O “não pode” não basta.

Os treinamentos são, nesse sentido, uma forma de tornar essa orientação mais participativa. Faça desses encontros um momento de troca de ideias, não uma apresentação chata de powerpoint. Crie dinâmicas e brincadeiras que ficarão na cabeça dos colaboradores e, assim, eles lembrarão desses conhecimentos de forma leve, sem aquela impressão de “uma obrigação chata”.

 

Como você orienta o manipulador de alimentos na sua unidade? Tem uma dica que funcionou com você? Compartilha com a gente nos comentários!